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sábado, 1 de dezembro de 2007

Réplica à resenha do Bryan McCann

Teresina, 2 de dezembro de 2007

Prezado Bryan McCann:

Cabe fazer uns pequenos mas significativos reparos nisto da herança negro-brasileira na MPB ter sido pesquisada "originalmente" pelo “comunista” Sergio Cabral ou por outros jornalistas. Não nego que foram jornalistas os primeiros a "pesquisar" a MPB -- até por estarem mais próximos dos artistas e da vida boêmia, em ambientes freqüentados tanto por uns como pelos outros. A meu ver, Cabral é um dos membros da segunda geração de jornalistas que se ocupou de música popular, portanto é ele mesmo que, literalmente, deve ter se aproveitado dos que vieram antes dele...

E como ele se aproveitou! Basta ler, por exemplo, algumas páginas da biografia do Pixinguinha e cotejá-las com algumas matérias de Phono-Arte (não citadas como tal), passando aos leitores a falsa impressão de que as páginas da biografia vieram todas da pena do jornalista/pesquisador e "crítico de MPB" em questão... (Cf., por exemplo, a p. 124 da biografia Pixinguinha: Vida e Obra [RJ: Lumiar, 1997] e as p. 25-26 da revista Phono-Arte, n. 32, de 30 nov. 1929) Coisa feia! Qual não foi a minha surpresa ao descobrir isso! É claro também que isso pode muito bem ter sido um "esquecimento" do autor da biografia (ou talvez até uma "falha da revisão" etc), mas caso fosse eu que o tivesse feito, seria imediatamente tachado de plagiário e muito provavelmente expulso da academia sem possibilidade de apelação, não é mesmo? Mas vamos a outros fatos porventura menos desagradáveis...

Na verdade, Cabral seguia bem de perto os passos de jornalistas "das antigas" (alguns bem anteriores a ele, mas ainda contemporâneos dele) como Fernando Lobo, Pérsio de Moraes, Nestor de Holanda, Sérgio Porto, Orestes Barbosa, Jota Efegê, Mariza Lira, J. Cruz Cordeiro Filho (um dos "directores" da Phono-Arte) e, querendo ou não, Lúcio Rangel (1914-1979), entre outros. Entre set. de 1954 e set. de 1956, Rangel foi o editor responsável pela Revista da Música Popular (recentemente re-editada em fac-símile pela FUNARTE, em volume único de 775 p.), que, por seu turno, deve ter chamado muito a atenção do “jovem experto do samba” Sergio Cabral.

Quando o “Almirante” (Henrique Foreis Domingues) lançou a segunda edição (1977) de seu livro sobre Noel Rosa, cito, No Tempo de Noel Rosa (1965), lá estava o já não tão jovem “comunista” prefaciando a obra... de carona, já como um grande "crítico de MPB". Mais do que ninguém, portanto, o próprio Sergio Cabral deve saber a razão de ele afirmar, quando o fez, que “não existe nada mais revolucionário do que pesquisar MPB”, afinal ele faz parte do grupo que você identifica como “historiadores populares”, juntamente com Jairo Severiano, Ary Vasconcellos e José Ramos Tinhorão, todos da mesma fornada dos anos 1960. Não posso ter nada a dizer do Sergio Cabral d'O Pasquim, até porque esse tablóide "udigrudi" é irretocável e me cala fundo no coração -- muito embora isso não venha ao caso aqui e agora! Top, top, top!

O que vem ao caso aqui e agora é a incrível “coincidência” de que o “Movimento pelos Direitos Civis” nos anos 1950 e 1960 nos Estados Unidos também tinha seu lado “esquerdista”, de underdog, não tinha não? E como jornalistas bem-informados, antenados, que de fato eram os que faziam parte daquele grupo foram beber (alguns literalmente), por exemplo, em fontes que circulavam desde sempre no meio da imprensa ocidental como The White Negro: Superficial Reflections on the Hipster (1957), o ensaio do Norman Mailer, ou o livro Blues People (1963), do LeRoi Jones (depois conhecido como Imamu Amiri Baraka), entre outros, só para formular certa “aproximação” entre a história da chamada Black music estadunidense com a história do samba urbano carioca, de forma a notar apenas as "semelhanças" entre ambas. Diante disso, meu caro McCann, fico aqui imaginando como teria sido espetacular se o Frank Kofsky de John Coltrane and the Jazz Revolution of the 1960s e de Black Music, White Business: Illuminating the History and Political Economy of Jazz pudesse ter tido contato com os conceitos de "campo de produção cultural" e de "habitus" do Pierre Bourdieu... Não ia sobrar pedra sobre pedra! Que pena que esse encontro não aconteceu!

Em off: Desta forma, o parâmetro utilizado pelos jornalistas brasileiros nos anos 1960 para fixar o que chamo no meu livro de “história semi-oficial da música popular brasileira” se assemelha, e muito, ao que hoje acontece quando se vê intelectuais e/ou acadêmicos brasileiros defendendo cega e ardentemente a adoção do sistema de cotas, a affirmative action e outras mumunhas tal como delas bem dispõe a sociedade estadunidense, ou seja, sem as devidas adaptações à realidade sociohistórica do Brasil, de características múltiplas e variadas nos quesitos racial e econômico... [ATENÇÃO: espero que você não entenda o comentário anterior como racista ou coisa parecida!] Melhor ainda seria colocar isso da seguinte maneira: aqui no Brasil somos useiros e vezeiros nessas “importações indevidas”, nessas “cópias enjambradas, torcidas e retorcidas” – e isso desde a época colonial, haja vista o que lindamente fizeram por aqui com o barroco em termos artístico-arquitetônicos e literários...

Fundamentalmente, meu caro McCann, não há nada de muito errado (nem de muito certo) com isso de imitar os outros, os mais desenvolvidos, para se lhes equiparar -- mas isto não indica que eu esteja infantilmente afirmando o que escrevi de forma maniqueísta, entende? O que não pode deixar de ser dito é que essas cópias enjambradas não nos vão equiparar a absolutamente nada, ou melhor, até vão, mas apenas parcialmente, como uma "verdade tropical" caetaneada... de fachada, tipo "macumba pra turista", que só beneficia os que estão diretamente envolvidos no processo, no empreendimento, digamos assim, porque é termo mais comercial, enfim... Mas tampouco se pode ver alguma coisa errada nisso, não é mesmo?

De supetão, ocorre-me também que eu jamais digo em meu livro que não me utilizo da obra desses jornalistas/pesquisadores e "críticos de MPB", muito ao contrário. Faço-o justamente para poder criticá-las mais à vontade, como talvez você bem possa perceber agora! Agora, só faltou você dizer quem ou o quê, afinal, você acha que eu poderia utilizar caso não os utilizasse como fontes?

Por fim, envio, daqui do quentíssimo Piauí e de sua tórrida capital, Teresina, em pleno sertão nordestino, um sincero e muito tardio agradecimento por sua mui honesta resenha sobre meu livro. Se lhe interessa saber, já estou cá a preparar outro, não sobre música popular, mas especificamente sobre literatura brasileira e... Bourdieu, é claro! Vamos ver como me saio dessa vez! Para quem tinha tudo para ser "um medíocre a mais nesse mundo", segundo um crítico bastante pessimista (e a meu ver muito reacionário), chego a pensar que pelo menos não involuí tanto...

Ex toto corde,


Wander Nunes Frota

2 comentários:

Anônimo disse...

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